Da Redação com Ascom
O Salão está instalado na entrada da cidade, na Avenida Brasília e abriu as suas portas ao público na última quinta-feira (6). O tema deste ano é “A Arte de quem Vive da Fé” e, ao todo, são 10 Artesãos Santeiros homenageados, sendo em sua maioria do Agreste Paraibano.
A solenidade de abertura contou com a presença do Governador da Paraíba, João Azevedo, representantes do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e demais lideranças políticas.
Logo na entrada do evento o visitante poderá conferir as obras, fotos com uma breve biografia e o stand de vendas de cada homenageado. São eles: Maria de Lourdes Diniz (Lagoa Seca), Francisco Diniz (Lagoa Seca), Rogério da Silva (Lagoa Seca), Tatiana Nascimento (Lagoa Seca), Ricardo da Silva (Lagoa Seca), Igor do Nascimento (Lagoa Seca), Jonas Nogueira (Bayeux), Bento Medeiros (Sumé), Leila Machado (Cabedelo) e Maria das Neves Cavalcanti (João Pessoa).
Dona Lourdes, como é conhecida, é fundadora do Programa do Artesanato Paraibano (PAP) e a única herdeira direta de Paulina Diniz, ela contou ao Repórter Junino o sentimento de ser homenageada nesta edição: “ É gratificante. Até que enfim reconheceram, né? Até que enfim, viram que a gente, como fundadoras, há muito tempo era pra já ter homenagem. Ninguém ouvia falar em artesanato e [isso] começou com a minha mãe. Ela faleceu e eu continuo. Tinha mais três irmãos meus que trabalhavam também, mas já morreram. Infelizmente, hoje só tem eu e meu filho, somente, da [nossa] família.”.
Ela contou que, antes do Salão existir, a sua arte já tinha ganhado fama em outros países e que o apoio do Convento foi fundamental nesse começo: “Eu aprendi com a minha mãe, Paulina Diniz e nos meus 10 anos de idade eu já trabalhava. Hoje eu tenho 71, imagina quanto tempo faz… Quando eu comecei a fazer exposição, não existia o Salão. Fiz muita exposição com banquinha, porque não existia um apoio do Governo como tem agora. Minha mãe foi a fundadora, começou em Lagoa Seca, começou trabalhando com o apoio dos padres do Convento São Francisco. Depois que o pessoal viu que tavam divulgando o artesanato, aí começou a aparecer outros artesãos, mas eu e a minha mãe, Paulina Diniz, foi quem começou o artesanato na paraíba. Vinha gente da Holanda, da Alemanha, de todo canto do mundo e conhecia a gente no Convento.”, comentou ela.
Ceramista natural da cidade de Alagoa Nova, Nenê já é conhecida internacionalmente e suas peças foram parar nas casas de diversos artistas no Brasil e pelo mundo afora. A sua história é permeada por fé e as suas peças, inspiradas no cotidiano, imprimem bem cada detalhe da sua vivência e pesquisa na arte: “Tem mais de 40 anos que eu estou na área. Eu me sinto assim: como quem fosse parte de uma Fé Maior. Quando eu era criança e ia nas igrejas, eu olhava os rostos dos santos, eu ficava preocupada com as imagens, eu ia olhando e parecia que eu ia esculpindo ela com o meu olho. […] Tudo o que eu ia vendo, eu tinha a chance de fazer uma releitura e trabalhar em cima disso. O anjinho, por exemplo, era o jeito que a minha filha dormia. A primeira peça que eu fiz foi o anjinho.”, comentou Nenê.
A espiritualidade, celebrada na temática do 38º Salão do Artesanato Paraibano, não está presente apenas na história dos Santeiros homenageados, mas em diversos artistas espalhados pelo evento, como é o caso de Li, 52, que trabalha com barro desde os 12 anos. A arte sacra é o seu principal estudo e inspiração: “O São Francisco é o que eu mais gosto de fazer. A história dele é bonita e me tocou. Ele gosta dos animais e eu também. É um santo bem querido por todos.”, disse.
O Salão, que conta com mais de 500 expositores e diversas tipologias de artesanato e gastronomia, recebe turistas de todos os lugares, como é o caso de Vera Lucia, 69, que veio de Navegantes – Santa Catarina.
Ela conta que chegou à cidade para prestigiar O Maior São João do Mundo e foi surpreendida pelo Salão: “Estou encantada! Eu também sou da parte do artesanato, eu trabalho com costura criativa com o meu esposo. É difícil escolher uma coisa só aqui, mas a arte em jornal me surpreendeu. Não tem dinheiro que pague. […] Na minha cidade nós temos um espaço para vendas, mas não é assim. Nunca vi no nosso estado uma feira como essa.”, ressaltou.
Alan Belizário, 18, que veio do Rio de Janeiro, contou sua experiência no Salão: “Eu vim olhar o conteúdo de arte/artesanato aqui de Campina e achei tudo muito interessante. É muito divertido, é um rolê muito legal pra marcar e vir conhecer. Achei uma experiência bem imersiva, ter contato com a arte local, saber o que a gente pode receber de conhecimento, dar voz aos artistas da terra…”, comentou.
O futuro do Salão do Artesanato é agora
O artesanato e a gastronomia presentes no evento não surgiram do nada, muitas famílias vêm passando de geração à geração a arte de bordar, tecer, cozinhar, talhar, moldar… Existe uma preocupação para que a História do nosso povo, que é escrita por esses artistas, não se perca no tempo e, para isso, é necessário que mais pessoas se interessem para continuar produzindo e contando a nossa História por meio das diversas tipologias do artesanato e da vasta produção de alimentos presentes aqui na Paraíba.
Juliana Oliveira, 20, que é apicultora há 3 anos, está no Salão representando a Associação dos Apicultores de São José dos Cordeiros. Ela comentou que um espaço como o Salão é muito importante para a visibilidade e venda da sua produção e nos disse o porquê da decisão de seguir os passos da família: “Desde criança eu cresci no sítio, gosto da natureza e a apicultura é uma atividade sustentável, então eu gosto demais. […] Eu penso no futuro. Se as nossas futuras gerações não continuarem com essa atividade, quem é que vai fazer? Então eu estou pensando a longo prazo. Se dá lucro e é o sustento da gente, por qual motivo não continuar?”, concluiu.
Ítalo Ferreira, 26, brinca com o barro desde a sua infância, mas antes de decidir trabalhar com o seu pai, cursou Educação Física e, embora gostasse, não via o curso como o futuro da sua vida: “Desde pequeno eu já brincava com o barro, os meus brinquedos eu mesmo fazia. Comecei a ajudar o meu pai, a produção começou a aumentar, comecei a fazer as minhas peças, começou a surgir encomendas, foi se tornando lucrativo e acabei entrando na área. Quando você fala que é artesão, o povo fica achando que é o pessoal que trabalha na praia e vive na necessidade, não entendem a dimensão que é o artesanato paraibano e também na questão nacional, pois a gente leva o nome da Paraíba nas costas. Meu pai, meu tio e meu avô trabalham com o barro, então já é de família e vou seguir a minha tradição vivendo do barro.”, comentou orgulhoso da sua trajetória.
A artista e professora Nenê Cavalcanti nos contou sobre a perpetuação do seu ofício: “Eu passei pras minhas irmãs e pra muita gente. Eu fico muito feliz de poder ajudar as pessoas e muita gente aprendeu, individualmente, na minha casa [ateliê]. Eu tenho alunos de São Paulo e até do exterior. Eu fico muito feliz em poder passar [o conhecimento] porque as crianças serão os adultos de amanhã, eles vão dar continuidade.”, ressaltou.
Ela também falou dos percalços encontrados pelo caminho: “Agora tá muito fácil, mas no início foi bem difícil, eu tinha que agendar as exposições [que eu viajei o Brasil todinho], me locomover, tudo por minha conta… Hoje já está tão fácil que tem o Governo patrocinando, tem várias pessoas que ajudam de outras formas e antes era eu e Deus.”, finalizou.
Alguns artistas conseguiram passar o seu ofício para os seus filhos e alunos, outros encontraram dificuldade no repasse do conhecimento, mas todos eles têm um amor à arte que os fazem seguir preservando e perpetuando a Paraíba por meio das suas peças.
“O artesanato vale a pena. Eu sinto muito, eu já tentei ensinar à gente de fora, porque muitos dos meus filhos não querem se dedicar, eu já tentei atender outras pessoas, mas muita gente não tem, assim, a sabedoria. É um trabalho difícil, um trabalho pesado, estraga as mãos e muita gente não quer estragar as mãos. Porque [isso] depende, também, da necessidade.”, pontuou Dona Lourdes.
A arte de Empreender
Ester Lucena, 33, trabalha não só no Salão, mas na Vila do Artesão com a venda de licores durante todo o ano: “É uma produção caseira, feita pela minha mãe, ela consegue vender o ano inteiro para Campina, João Pessoa e até mesmo Caruaru. A gente começa a se preparar em fevereiro, pois tem a garrafa que vem de fora, os licores que precisam ficar em infusão durante um certo tempo, então a gente se prepara desde o início do ano.”, explicou.
Andreza Larissa, 28, conta que começou a vender cocadas antes de completar 17 anos: “Eu comecei a trabalhar com a minha sogra, ela faz as cocadas e eu revendo. A gente começa a divulgação desde a nossa inscrição, divulgamos nas redes sociais e como a minha sogra participa das feiras móveis em João Pessoa, ela avisa aos clientes que vamos estar, nesse período, no Salão. O pessoal já fica na expectativa. Não tem satisfação melhor do que ver a reação do cliente ao provar o nosso produto e esse é o maior motivo pra gente continuar.”, ressaltou.
SERVIÇO:
38º Salão do Artesanato Paraibano – A Arte de quem Vive da Fé
Período: 6 a 30 de junho
Visitação: das 15h às 22h (todos os dias da semana)
Local: Avenida Brasília (ao lado do Partage Shopping)
Ingresso solidário: 1 kg de alimento não perecível (opcional).
*Repórter Junino